terça-feira, 19 de maio de 2009

Minhas memórias mais remotas

Um dia me disseram que eu devia escrever minhas memórias.
Aconteceu justamente por ocasião de minha aposentadoria. Fiquei nos primeiros dias que se seguiram um pouco perdida, sem saber como preencher o tempo em que sempre me ocupei trabalhando.
Desse dia em diante me empenhei em reunir os manuscritos onde guardei as anotações que a gente costuma escrever no decorrer da vida. Alguns jogam fora mas acho que esqueci de fazer isto, já que ocupava meu tempo com a casa, família e o trabalho. De repente pensei que poderiam estar num velho diário em alguma caixa de guardados. Jamais pensaria que me pudessem ser úteis um dia.
Começarei com a acolhedora e simpática cidade de Joinville onde fomos morar eu e minha família por ocasião da transferência de meu pai para lá, por motivos de trabalho. Joinville era uma cidade onde se concentrava um grande número de alemães imigrantes e industriais que deram enorme impulso tornando-a muito conhecida nacionalmente, atraindo comerciantes e até turista pelas suas indústrias.
Estabelecia também um grande comércio com o exterior. Vivemos lá bons e maus momentos agravados pela frágil saúde de nossa mãe. Nossa família cresceu em dois anos com o nascimento de mais duas irmãs e passamos a contar oito filhos.
Papai trabalhava no banco do Brasil, situação que época, não precisava de atividades paralelas para manter a sua família.
O que mais me divertia era observar o rio, que cortava uma parte da cidade, com suas embarcações, o moinho e a roda d’água, também o grande número de bicicletas transitando nas ruas; meu irmão Waldir tinha uma com farol, que era o seu meio de transporte todos os dias. Ele servia o exército CTA de Joinville chamado Tiro 40. Em 1935 houve a revolta Intentona comunista.
Certa manhã mamãe sentou-se na varanda, e pôs-se a fazer o seu trabalho em crochê, muito bonito,que eu ficava admirando por seu colorido; logo depois, meu irmão Waldir saiu para o seu trabalho. De repente voltou apressado atraído pela fumaça que saía pelas janelas de cima. Formou-se em seguida um alvoroça, todos correndo com baldes d’água para apagar o pequeno incêndio que começava a se formar. O fogo abriu um brecha no assoalho e minha irmã Ecila, pode ver suas miniaturas de porcelana que, eu e a Neusa, quando brincávamos, enfiávamos pelas frestas do assoalho; quando ela chegava do colégio sempre havia alguma arte feita pelas suas irmãs menores; quando nos sentíamos ameaçadas pelos seus beliscões, escondíamos atrás das sáias da mamãe.
Nessa época, nasceu minha irmã Celinha, que foi batizada com o mesmo nome de minha mãe; assim foi carregando o seu nome no diminutivo pela vida a fora. Quando começou a andar, já mostrava o seu talento de bailarina e dançava em cima da mesa sob os aplausos da família ao som das músicas de Carmem Miranda, artista brasileira de maior sucesso, na época os nossos natais eram muito comemorados com pinheirinhos de velas acesas e os presépios armados artisticamente pêlo Waldir e mamã; papai se ocupava com os comestíveis, alem de frutas e marzipã; perto de chegar o “bom velhinho, Ecila dava umas voltinhas lá fora, para distrair os menores, tentando mostrar a carruagem do papai Noel descendo as nuvens puxadas por suas renas, jamais cheguei a ver esta fantasia.
Foram bem marcantes, para mim, os acontecimentos desta época, não podendo deixar de relatar a revolta comunista no país em 1935.
As casas e lojas comerciais dos alemães eram marcadas com um X em vermelho e apedrejadas. A maioria da população assustada recolheu-se em suas casas.
Os nossos soldados vestiam faixas verdes na cintura, por isso, os catarinenses de Joinville receberam o apelido de “Os barriga verde”.


Em 1937 chegou a caçulinha Alice, nome repetido de nossa avó. Foram ao todo oito Alice na família, que dava uma certa confusão:-- De qual Alice vocês estão falando?.. As minhas memórias aqui relatadas são as mais remotas de minha vida em Joinville antes da família se transferir para minha terra natal “Florianópolis”.
Um grande acontecimento na época foi a passagem de um famoso “ dirigível” pelos céus de Joinville o “Zeppelin”; as rádios da cidade comunicaram à toda a população que o dirigível passaria lá pelas nove horas da manhã do dia 1º de julho de 1934“?” E todos foram para as ruas ficando com os olhos presos nos céus para esperá-lo passar. Era majestosamente lindo!!!







Notificação importante: em 1937, um Zeppelin a hidrogênio, o “Hindenburgo”, incendiou-se em Lakehurst, Nova Jérsei. Depois deste desastre, o dirigível não foi mais usado como meio de transporte.

Um comentário:

  1. Mãe... quantas experiências maravilhosas vc já têve né? E colocar aqui pra gente ler é muito importante, pra ficarmos sabendo das coisas que vc já viu... Um bjo e continue escrevendo...

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