segunda-feira, 8 de junho de 2009

Memórias dos anos 40...



Nossa família tinha grande simpatia por Getúlio, assim chamado pelo povo em geral. Sob o cognome de “Pai dos pobres” era amado pelo povo brasileiro e odiado pela “Elite”, muito compreensível, hoje em dia se vê o mesmo, que é difícil um governo agradar à esses” dois senhores” ao mesmo tempo. Político gaúcho,liderou o movimento antioligárquico que pôs fim à República Velha. Foi eleito presidente pela Assembléia Constituinte de 1934. Implantou a ditadura do Estado Novo em 1937. Deposto em 45,voltou a ser eleito pelo povo em 1951.Neste mandato levantou bandeiras nacionalistas, mas facilitou a entrada de capital estrangeiro ao mesmo tempo.
Criou leis, que beneficiaram o povo, tal qual: o salário mínimo e aposentadoria, que faz ,até hoje justiça ao povo brasileiro;dentro dessas leis estão embutidas uma série de direitos aos trabalhadores. Terminada a guerra em junho de 1945 com o lançamento da “Bomba Atômica”em Hiroshima e Nagasaki no Japão, soou a hora de enterrar os mortos e salvar os vivos. O mundo inteiro chorando seus mortos, a destruição era geral na Europa, mas as conseqüências foram sentidas no planeta inteiro! Em virtude das constantes informações de acesso ao povo , era normal que uma criança, nos seus sete ou oito anos de idade,memorizasse os paises da Europa e suas capitais;eu, que também fazia parte desse elenco, identificava alguns mapas, línguas,continentes e povos sem grandes esforços.
Passados em parte os traumas que tudo pode ter causado durante esse período, nossa família, foi presenteada com a chegada da Vânia, primeira neta de nossos pais. Um alento para a nossa mãe, direcionando a ela toda a sua atenção. Sua alegria culminou com seu falecimento em 14 de Maio de 1946 quando Vânia tinha 11 meses de idade. Desta data em diante nossa preocupação passou a ser com nosso pai, que parecia ter perdido o seu “horizonte”; eu ficava muito triste ao vê-lo tão solitário em seu quarto, tentando fazer alguma coisa! Meus irmãos ficavam chamando papai para distraí-lo. Começou então a fazer viagens a trabalho,como inspetor do Banco do Brasil,sendo assim a forma encontrada para continuar a vida. Ele era uma pessoa tão organizada que não esquecia nem de levar em sua malinha de viagem uma caixinha de costura com agulha e fios ,caso viesse a precisar para pregar botão. Nossa vida modificou-se, daí em diante, sem mãe e papai ausente quase o tempo todo, os encargos da família e da casa ficaram com Waldir Badina e Ecila, que casou logo depois,não sendo nada fácil para eles,com três adolescentes em casa e duas crianças . Neusa foi para o internato no colégio “ Bom Conselho” em Porto Alegre e eu fiquei no colégio “ Coração de Jesus “ em Florianópolis.
Do que eu gostava mesmo era do grande corredor do terceiro piso do colégio, onde ficavam várias salas de piano do lado direito, e do lado esquerdo um museu bem organizado .Recomeçaram as aulas de piano com a Irmã Solanis, minha professora. As escalas e os exercícios eram cansativos.
Minha paixão era: Chopin, Beethoven, Mozart e Duran, e outros, porém, Chopin sempre foi meu preferido; muito divulgado pelo filme americano: “ À noite sonhamos”. Essas dependências ficavam do lado sul, onde o vento batia mais forte nos eucalíptos,produzindo um assobio, envergando-os de um lado para o outro, no pátio sul. Até hoje minhas aulas de piano, nunca foram esquecidas. Posso dizer que: depois de Deus, da família, dos amigos,eu amo o“Piano”. Entrei no corredor da ala dos pianos, procurando uma sala desocupada eram muitas as alunas que praticavam piano ou violino. Agora é sério... o compartimento foi invadido por alguém com grossos óculos, régua na mão, aroma de roupa preta usada,largas mangas compridas tendo nas pontas duas mãos tão brancas...eu deduzi que era a própria: Irmã Solanis.; quando eu errava uma nota ela tocava meus dedos para que eu as repetisse; depois fiquei a pensar...” como deve ser difícil conservar toda essa roupagem, toneladas de roupa, sempre cheirosinha!, nesse tempo não havia máquina de lavar,nem secadoras! Terminado horário fui para o pátio, para o lanche da tarde , depois vinha a hora do estudo livre, então eu e minhas colegas aproveitávamos para bater um papo,aí chegou a Irmã Constança e acabou nossa alegria; começou a distribuir a correspondência que vinha das estudantes da França, para nós do magistério; por êsse trabalho, que meu francês não ficou em completo esquecimento.
Gosto muito de esporte, principalmente voley; como não tinha estatura suficiente não conseguia ser uma boa jogadora, já no tênis, era preciso muito talento; outra coisa que eu não tinha... , mas dava pro gasto; na quadra o que mais fazia era juntar as bolas; adorava ver os outros jogarem. Lá do alto, do alambrado dos jogos, no limite do morro podia-se ver as moças passarem desfilando seus trajes de última moda;as sáias “godê ponche”, à poucos metros do chão,sapatinhos balé em cores combinando com os vestidos; eu, lá de cima, acenava para as pessoas que eu conhecia;sentindo-me prisioneira naquele morro cercado de telas. O uniforme do colégio era comprido, 25 cm do chão e o mais incrível era o calção de ginástica, que tinha que cair como uma saia, até o joelho.
Nós, as internas, levantávamos todas as manhãs às cinco e meia com o dia ainda amanhecendo, caminhávamos pelos corredores de olhos quase fechados,presos na colega da frente, como sonâmbulas,em direção á capela. O sono era muito grande, todas caladas, cheias de preguiça,andando como autômatas, como se já soubesse o caminho décor.
Descíamos a escadaria que dava para o pátio interno, quando éramos tomadas por uma brisa fresca da manhã e se respirava fundo de satisfação. O ar da noite que se despedia era penetrante. Dava vontade de voar...parávamos no topo da escada para dar passagem às freiras que desciam da sua clausura(quarto de dormir);o maior desejo de qualquer aluna era conhecer esse” quarto,” ao passarem por nós, sentíamos novamente o cheiro de roupa usada; as freiras eram muito queridas, mas se cuidavam na afeição às alunas, somente a Deus!.
Era um desfilar de criaturas, igualmente vestidas que passavam diariamente à mesma hora, sempre na mesma ordem, da mesma forma, provocando estalidos na escada de madeira. Todas caladas... muito caladas...só o “ fru fru” de suas toneladas de roupas.



A ordem, a disposição e os lugares na capela,eram sempre os mesmos, nos bancos ficavam as bolsas de pano preto,guardando o véu, o rosário e o missal; a capela tinha cheiro intenso de velas, círios acesos,com pouca luminosidade como se algo funério fosse lá acontecer. Havia algumas freiras que nos despertaram uma afeição especial; uma delas foi a Irmã Veronice, gaúcha,meiga, muito amiga, com um grande coração,uma verdadeira serva de Jesús. Quando encontrávamos pelos corredores com algumas de nossas freiras nós as cumprimentávamos dizendo; “Louvado seja Nosso Senhor Jesús Cristo, irmã”´!; quando passávamos apressadas era `somente: “Cristo ,irmã”!. Por várias ocasiões, nos levavam a passeio pelas praias de, a gente se divertia muito. Fiquei muito feliz, no dia em que nós , alunas do magistério,escolhidas pela irmã Maria Tereza, Florianópolis, em piquenique


fomos ao Palácio do Governo, recepcionar o nosso presidente Getúlio Vargas, que nos cumprimentou com um aperto de mão!. Êle estava em visita por Florianópolis. Foi organizado um desfile em sua homenagem!.

Um comentário:

  1. muito bom!
    repleto de detales que sempre quis conhecer.

    a escrita dá o privilégio de editar aquilo que se tem para dizer.

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