quinta-feira, 21 de maio de 2009

Minhas memórias (parte II)

Certo dia papai chegou em casa com uma notícia que deixou a todos muito admirados! e disse-“Fui transferido” . Fiquei atenta ao que ele comentava com mamãe e meus irmãos mais velhos: Waldir, Sílvio e Ecila, que já participava dos assuntos dos adultos. Fiquei preocupada; nem sei bem o que significava “trocar de cidade”. No primeiro instante pensei que tínhamos que deixar nossas coisas, meus brinquedos, as bonequinhas gêmeas:Lalá e Lulú que eu havia ganho da minha madrinha ,tia Marieta,vestidinhas com roupinhas de marinheiro; quando eu as punha a andar , fazinham dobrinhas nas calcinhas como gente ; e o circo do Sílvio que ele armava no quintal de casa, eu era equilibrista e ficava em pé nos ombros dele! Será que o circo não podia ir também? Estava triste ,como poderia eu ficar sem ver mais o rio com as embarcações, moinho de vento, a roda d’água as bicicletas e tudo mais... Pela primeira vez em minha vida me senti prestes a perder coisas que eu me apegava tanto.
Aqui começa a segunda fase das minhas memórias: “ Florianópolis”
Comecei a ficar curiosa pelo novo lugar , quando mamãe comentava-“: vocês vão gostar de ver o mar;” nem podia imaginar tanta água numa bacia tão grande!
A ponte é muito bonita, tão grande que as embarcações passam por baixo; tem também uma igreja, a catedral da cidade,com imagens grandes em tamanho natural,que era conhecida como “Fuga para o Egito” ; a família sagrada , é uma obra magnífica talhada em madeira muito admirada pelos visitantes.
Chegou o dia da partida! Já não sentia mais as sensações de perda que deram
lugar à ansiedade pela viagem, passeio de carro e as novidades que viriam .na viagem; mamãe trazia a Alicinha no seu colo e a Celinha com a Ecila ; eu e Neusa dormimos o tempo todo; acho que o Mauro , com seus oito anos já ficava atento às atrações que uma viajem oferece; ele era um lindo menino que chamava atenção à todos;mamãe tinha um xodozinho especial por ele.
Ah! Eu disse o nome de todos menos o meu: sou a Suely.
Chegamos!!!!ufa..!
Fomos recebidos muito bem por tio Celso tia Vina,que de braços abertos nos esperavam., assim como, a meiga e doce Alicinha, filha deles, nossa prima.
Já caia a noite e depois dos abraços muitos beijos e largos sorrisos nos sentamos à mesa para jantarmos .A mesa de meus tio lotou :- Célia a família cresceu bastante!.
Mamãe se orgulhava da sua prole. Fiquei observando a louça que servia a mesa; a louça do serviço de jantar era muito bonita, azul, quadrada bem diferente do comum, meu tio sorria de satisfação pela alegria de ter ao seu lado ,Célia sua irmã tão querida. Ecila e Alicinha ( prima) conversavam sobre assuntos de jovens.; enquanto eu continuava observando tudo ; achei meu tio um homem simpático, de olhar expressivo, bigodes tipo português; fumava muito e sua roupa cheirava a cigarro., ficou parado nos olhando: mamãe com a pequena Alice no colo,Celinha pela mão, Neusa meio escondida atrás de mim e eu escutando sobre as vantagens que esta vinda teria para a família principalmente para o tratamento de saúde que mamãe precisava. Embora atarefado em desfazer as malas papai conversava sobre ao atrativos que a ilha ia nos oferecer: passeios, as praias, ondas que balançavam os barcos, a fina areia como açúcar sem contar com a famosa ponte Hercílio Luz; falavam também na igreja, a Catedral,e suas célebres esculturas em madeira da” Fuga da família sagrada para o Egito” em tamanho natural ., tão perfeita que parecia de verdade. Assim Joinville foi ficando para atrás ...
Pela janela,as anormes e entalhadas folhas da bananeira do vizinho, balançava de um lado para o outro pela aragem de vento que soprava do mar. Eu tinha uma vontade enorme de conhecer este mar e imaginava uma grande bacia cheia ‘dágua.
Alicinha tinha uma bicicleta “Wander” onde aprendi a andar, que mais tarde foi passada para a Ecila em deploráveis circunstâncias por morte da Alicinha da qual nunca soubemos as verdadeiras causas.; foi um abalo muito grande na família.
Este verão foi o último antes da etapa importante da minha vida: começava o meu período escolar, antes porem, papai alugou uma casa na rua Bocaiúva onde passamos o natal e o ano novo. A casa era espaçosa e foi lá que se reuniu a família para as comemorações de fim de ano. Estava cheia a nossa casa, a alegria era contagiante e erguiam em pé as taças de “champagne”e se abraçavam. Lembro-me que olhava para eles , os adultos, e só via pernas que vendo a altura eram imensas, e eu pensava em crescer e ficar como eles
No jardim a gente pisava em conchinhas de praia aos montões,o mar era bem perto., logo aprendi a nadar a boiar e pegar piavinhas com a mão.
A primeira compra que fiz na minha vida foi um lápis de escrever em lousa de pedra e eu ainda não sabia nada de escrita só sei que , sem muita demora, nos mudamos para a avenida Hercílio Luz. Adeus mar na esquina, adeus jardim com bocas de leão e copos de leite e adeus às conchinhas.! Graças a Deus não foi difícil a adaptação na nova casa!
Não perdia em espaço para a outra, era até maior, com um jardim bem grande
cheio de árvores frutíferas de varias frutas. Havia uma parreira repleta de uvas de duas qualidades ,atraindo as visitas que chegavam; havia sempre o que fazer. Antes de chegar os anos quarenta , metade do ano de 1938 estoura uma guerra que envolveu todas as maiores nações do mundo a “ segunda guerra mundial” .
Este fato terá um relato especial!no próximo artigo de “Minhas ,memórias”.

3 comentários:

  1. Lindo texto Vozinha! Seus escritos são tão bem redigidos que consigo imaginar facilmente!!!
    Um beijo da sua neta, Nanda.

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  2. Mãe vc ta de parabens....... as historias que vc viveu são incriveis.... é uma delicia ler teu blog.
    bj amo vc

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  3. Sôbre a foto da praça xv. mostrando a figueira de 400 anos, imagine pisar no mesmo lugar onde em 1662 o bandeirante "Fernão Dias Velho"fundou a "Vila Nossa Senhora do Desterro, atual "Florianópolis"
    É POUCO?.

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